Constipação Intestinal

Dra. Luciana Figueiredo

A constipação intestinal, conhecida popularmente como prisão de ventre,
pode acometer pessoas de ambos os sexos, entretanto é mais comum nas
mulheres e idosos. Está presente em 15 a 20% da população adulta. Ela reduz a qualidade de vida, pois gera desconforto abdominal, distensão e esforço evacuatório excessivo.
A constipação pode ser dividida em primária ou funcional, quando não se
consegue definir uma causa específica na história clínica, ou secundária, quando existe uma causa intestinal ou extra-intestinal para o problema, tal como tumores, doença diverticular, uso de certas medicações, doenças metabólicas ou neurológicas como hipotireoidismo, diabetes, esclerose múltipla, doença de Parkinson, dentre outras.
Existem uma série de critérios (critérios de Roma IV) para definir a
constipação crônica, sendo que pelo menos dois deles devem estar presentes nos últimos 3 meses e terem iniciado há pelo menos 6 meses:

  • Menos de 3 evacuações por semana;
  • Fezes endurecidas em mais de 25% das evacuações;
  • Esforço excessivo para evacuar em mais de 25% das evacuações;
  • Sensação de evacuação incompleta em mais de 25% das evacuações;
  • Sensação de bloqueio/obstrução anorretal em mais de 25% das
    evacuações;
  • Necessidade de ajuda manual para evacuar em mais de 25% das
    evacuações.

Para o bom funcionamento intestinal é importante observar uma ingesta adequada de fibras e de líquidos, praticar atividade física e respeitar o momento do desejo evacuatório. Quando a ingesta de fibras for insuficiente, o médico pode recomendar a suplementação de fibras na alimentação. Elas são o primeiro passo na regulação intestinal.
As fibras alimentares são compostos de origem vegetal que tem propriedades laxativas, aumentam o volume do bolo fecal e aceleram o tempo de trânsito intestinal. Além disso, são importantes no equilíbrio da flora intestinal e do metabolismo das gorduras e promovem sensação de saciedade nas refeições.
A ingesta inadequada de fibras está associada à constipação intestinal e ao desenvolvimento de outras doenças como colesterol elevado, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares como hipertensão, infarto ou isquemia cerebral. A ingesta de fibras também está associada a um efeito protetor contra o câncer colorretal, benefício importante visto que este é o tumor que ocupa o segundo lugar em
mortalidade no nosso estado.
A recomendação é que se consuma de 20 a 35 gramas de fibras ao dia,
distribuídas ao longo das refeições através da ingesta regular de verduras, frutas, legumes, grãos integrais e leguminosas.
Caso estas medidas sejam insuficientes, pode-se lançar mão do uso de
laxantes, iniciando-se por aqueles ditos osmóticos e deixando os laxativos estimulantes para uma segunda opção. Casos em que exista fraqueza ou disfunção do assoalho pélvico podem requerer manejo por fisioterapia com biofeedback ou mesmo consultoria com um proctologista para correção cirúrgica da causa da constipação.
Sempre que é feita a avaliação de um paciente com constipação crônica, deve-se observar a presença de sinais de alarme como mudanças súbitas do hábito intestinal, sangue nas evacuações, perda de peso ou anemia, além de coletar dados da história familiar para câncer. Em pacientes acima de 45 anos que nunca tenham
realizado a colonoscopia, recomenda-se a realização do exame, que terá caráter diagnóstico e preventivo nestes casos.