DISPEPSIA FUNCIONAL-ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

 

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Dispepsia é definida como um distúrbio da digestão caracterizado por um conjunto de sintomas relacionados ao trato gastrointestinal superior, como dor, queimação ou desconforto na região superior do abdômen, que pode estar associado à saciedade precoce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, timpanismo abdominal, sensação de distensão abdominal, cujo aparecimento ou piora pode ou não estar relacionado à alimentação ou ao estresse.

O aparecimento da dispepsia ou sintomas dispépticos pode estar associado a vários distúrbios do trato gastrointestinal superior, como, por exemplo, doença ulcerosa péptica, doença do refluxo gastrointestinal, gastrites, neoplasias do trato gastrointestinal superior, doença do trato biliar e dispepsia funcional Dispepsia funcional ou dispepsia não ulcerosa ou síndrome dispéptica é uma desordem heterogênea caracterizada por períodos de abrandamentos e exacerbações, e seu diagnóstico é em geral empregado quando, em uma avaliação completa em um paciente que apresenta dispepsia, não se consegue identificar a causa para os seus sintomas.

O mecanismo fisiopatológico ainda é desconhecido e o tratamento ainda não totalmente estabelecido. Embora várias definições sejam usadas para descrever dispepsia funcional, a mais comum, de acordo com os consensos Roma II e Roma III é aquela de dor, queimação ou desconforto crônico ou recorrente com sensação subjetiva desagradável, que pode estar associada a saciedade precoce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, timpanismo e distensão abdominal, localizados no abdômen superior, com ausência de provável doença orgânica que justifique os sintomas e ausência de evidências de que os sintomas melhorem ou estejam associados a alterações no ritmo ou nas características das evacuações intestinal. Além disso, os sintomas apresentam duração mínima de 3 meses (12 semanas), contínuos ou intermitentes, e apresentam no mínimo 6 a 12 meses anteriores de história de acordo com os consensos Roma II e III.1-4De acordo com o consenso Roma III, os principais sintomas observados na dispepsia funcional são: empachamento pós-prandial, saciedade precoce, dor epigástrica e queimação

 

Dispepsia funcional é uma desordem gastrointestinal muito comum observada na população geral, nos ambulatórios de clínica médica geral e nos ambulatórios de especialidade, é causa muito comum de vários tratamentos, de vários exames laboratoriais inclusive de internação hospitalar. A dispepsia funcional também está associada ao uso de vários medicamentos, automedicação, absenteísmo e perda de produtividade. Apesar de os mecanismos fisiopatológicos não estarem totalmente esclarecidos, diferenças relacionadas ao gênero foram observadas em vários estudos. Algumas investigações mostraram que há uma diferença na esfera psicossocial das mulheres com dispepsia, tanto relacionadas à sensação de bem-estar como com associação à história de abuso na infância ou adolescência quando comparados com homens com sintomas de dispepsia funcional. Diferenças relacionadas ao gênero também foram observadas em alguns estudos tanto de prevalência dos sintomas como em função motora proximal e esvaziamento gástrico anormal na dispepsia funcional. O efeito do gênero no mecanismo da dispepsia funcional, na apresentação dos sintomas e na resposta ao tratamento é uma área de crescente interesse e de vários estudos. Portanto, apesar de os mecanismos fisiopatológicos e a causa não estarem totalmente esclarecidos, parece haver algumas características específicas relacionadas ao gênero na dispepsia funcional.

Esvaziamento gástrico lento ou gastroparesia primária ou idiopática é uma condição em que ocorre um retardo no esvaziamento gástrico na ausência de obstrução mecânica. Esta condição pode ocorrer em até 30% dos pacientes com diagnóstico de dispepsia funcional e pode contribuir para os sintomas.

Apesar de as drogas pró-cinéticas melhorarem a função motora, não há relação entre a alteração na função motora e a melhorados sintomas na dispepsia funcional. Outros possíveis mecanismos fisiopatológicos sugerem distúrbios na acomodação gástrica ou relaxamento receptivo, hipersensibilidade à distensão gástrica, sensibilidade duodenal alterada a lipídios ou ácidos, motilidade duodenojenunal anormal, suscetibilidade familiar, alterações da função neuro-hormonal, disfunção autonômica, hipersensibilidade visceral a ácido ou distensão mecânica, infecção por Helicobacter pylori, infecções do trato gastrointestinal, co-morbidade psicossocial e estresse. H. pylori é uma bactéria espiralada Gram-negativa que pode estar presente no muco que cobre a superfície do estômago identificada por dois pesquisadores australianos em 1983, Warren e Marshall, ganhadores do prêmio Nobel de Medicina em 2005, por demonstrar que esta bactéria poderia ser a causa da doença ulcerosa péptica gastroduodenal. A confirmação da infecção do trato gastrointestinal por H. pylori pode ser dada pela pesquisa direta da bactéria no material coletado por endoscopia digestiva alta (histoquímica, cultura e reação em cadeia de polimerase)e por um teste indireto (teste rápido da urease), e também por testes que não exigem a endoscopia digestiva alta, que são o teste respiratório usando ureia marcada com isótopos C13ou C14 e a pesquisa de anticorpos no sangue O papel da infecção do trato gastrointestinal por H. pylori na fisiopatologia dos sintomas na dispepsia funcional ainda não está bem esclarecido. Apesar de controverso, alguns autores têm recomendado prescrever medicamentos para a erradicação do H. pylori em pacientes com dispepsia mesmo na ausência de sintomas de alarme. Apesar de vários estudos epidemiológicos sugerirem uma incidência aumentada de infecção por H.pylori em países subdesenvolvidos, parece não haver nenhuma diferença estatística da melhora dos sintomas dispépticos após a erradicação H. pylori em pacientes com dispepsia funcional. Embora nenhum tratamento específico tenha sido estabelecido para tratar os sintomas da dispepsia funcional, vários medicamentos com o objetivo de aliviar os sintomas têm sido empregados como, por exemplo, drogas que inibem a secreção ácida, drogas pró-cinéticas, antibióticos indicados para a erradicação de H. pylori e antidepressivos, associados ou não.

Critérios diagnósticos de dispepsia funcional de acordo com o consenso Roma II e III

bem como alterações nos sintomas após a erradicação da bactéria no nosso meio, de forma que estudos detalhados para determinar as alterações nos sintomas e na qualidade de vida dos pacientes que foram submetidos ao tratamento para erradicação de H. pylori precisam ser feitos.iva alta) que justifica os sintomas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dispepsia funcional é um distúrbio gastrointestinal muito comum observado na população geral, nos ambulatórios de clínica médica geral e nos ambulatórios de especialidade onde corresponde a 25% dos atendimentos e é causa de vários tratamentos, inclusive internação hospitalar. A dispepsia funcional está associada ao uso de vários medicamentos, automedicação, absenteísmo e perda de produtividade. Apesar de ser um distúrbio gastrointestinal muito comum, os mecanismos fisiopatológicos e o tratamento ainda não estão totalmente definidos. Apesar de os mecanismos fisiopatológicos e a causa não estarem totalmente estabelecidos, parece haver algumas características específicas relacionadas ao gênero na dispepsia funcional. Embora vários estudos amplos e bem controlados tenham sido realizados, nenhuma terapêutica isoladamente ou em conjunto parece ser totalmente eficaz no controle da dispepsia funcional. Vários medicamentos com o objetivo de aliviar os sintomas, como supressão da secreção ácida, drogas pró- cinéticas, erradicação de H. pylori e o uso de antidepressivos, associados ou não, têm sido empregados. Além disso, não há estudos epidemiológicos detalhados sobre a incidência, a prevalência, a forma de apresentação e os sintomas causados da dispepsia funcional na infecção por H. pylori, bem como alterações nos sintomas após a erradicação da bactéria no nosso meio, de forma que estudos detalhados para determinar as alterações nos sintomas e na qualidade de vida dos pacientes que foram submetidos ao tratamento para erradicação de H. pylori precisam ser feitos.